O carioca Sergio Noronha, mais conhecido
na época como Fedelho, foi um dos personagens do evento histórico de 1986,
sendo o melhor brasileiro na competição que será reeditada no início de
novembro em Florianópolis.
Sergio Noronha era conhecido, na época, como Fedelho. |
Colaboração de foto: Beto Issa/Arquivo
Sergio Noronha/Nelson Veiga/lvarenga Junior
O Hang Loose Pro Contest vai celebrar os
30 anos do início da sua história nos próximos dias 1 a 6 de novembro na Praia
da Joaquina, com uma etapa do QS 6000 em Florianópolis. O campeonato de 1986
ficou marcado na história do esporte por trazer o Circuito Mundial de volta
para o Brasil e pelas ondas épicas de 8-10 pés que quebraram na
"Joaca", durante a semana daquele evento inesquecível. As principais
estrelas do surfe mundial prestigiaram a estreia da Ilha de Santa Catarina no
cenário internacional e muitos brasileiros também competiram contra grandes
ídolos, como Tom Carroll, Mark Richards, Mark Occhilupo, Barton Lynch, Shaun
Tomson, Wayne Bartholomew, Damien Hardman, entre tantos outros.
O carioca Sergio Noronha. |
E um dos grandes personagens do primeiro
Hang Loose Pro Contest foi o carioca Sergio Noronha, um surfista ainda amador
na época, que acabou se tornando o melhor brasileiro no campeonato. Ele
competiu desde o primeiro dia, passou pelas triagens, chegou no evento
principal e derrotou algumas estrelas internacionais, como Barton Lynch e Mitch
Thorson, só parando no campeão Dave Macaulay nas quartas de final. Noronha
decidiu se profissionalizar com o prêmio do quinto lugar no Hang Loose Pro
Contest e compete até hoje, na categoria Master. Ele conta um pouco daquele
campeonato incrível de 1986 em Florianópolis.
"Eu era apenas um amador dentre
alguns que estavam lá e não esperava chegar tão longe", confessou Sergio
Noronha. "Eu havia competido no Waimea 5000 (em 1982 no Rio de Janeiro),
pois meu pai já me incentivava naquela época, então já tinha corrido com alguns
gringos, mas nada comparado ao que foi vivenciado em Floripa. As ondas
realmente fizeram a diferença e a minha bateria com o Barton Lynch foi a mais
disputada, venci por 3 a 2. Com o campeão do evento, Dave Macaulay, não tive
chances, o cara tava inspirado e as ondas achavam ele".
O Hang Loose Pro Contest era a oitava
etapa da temporada e a maioria dos gringos que brigava pelo título mundial
estava em Santa Catarina naquela semana de 6 a 14 de setembro de 1986, para prestigiar
a volta do Brasil ao Circuito Mundial. Poucos conheciam Florianópolis e a Praia
da Joaquina, mas muitos consideraram aquele mar épico de esquerdas perfeitas de
8-10 pés, como o melhor dos últimos três anos em etapas no mundo todo. Um total
de 155 brasileiros participou do campeonato, quase todos entrando nas longas
triagens para chegar no evento principal, quando estreavam as atrações
internacionais, os tops do ranking mundial.
"Eu viajei pro Sul sozinho e lá, por
pura obra do destino, fiquei em companhia dos pro surfers de Cabo Frio, Miguel
Kury e Gugu, numa casa alugada na Barra da Lagoa", conta Sergio Noronha.
"Eu estava uma semana sem surfar, porque tinha cortado meu pé direito, o
que me obrigou a usar botinhas de neoprene (usadas em fundo de coral pra não se
cortar). Eu levava duas pranchas novas para o evento e nossos treinamentos
foram intensos, acordando cedo pra correr e depois surfar na Joaca, que ficou
realmente clássica. O equipamento estava 100% aprovado, uma 5´11 e uma 6’1 da
Hotstick, shape do Victor Vasconcellos".
Nelson Veiga. |
Brasileiros
em 1986 - Entre os brasileiros, apenas o catarinense David Husadel e
o paulista Tinguinha Lima entraram direto no evento principal, como convidados
da Hang Loose. Os outros competiram nas longas triagens e onze se classificaram
para a primeira fase homem a homem, ficando então treze brasileiros. Sergio
Noronha foi um deles e um dos quatro únicos que derrotaram os gringos, junto
com Tinguinha Lima, Dadá Figueiredo e Rodolfo Lima. David Husadel e mais oito
foram eliminados, Paulo Matos, Felipe Dantas, Taiú Bueno, Almir Salazar, Cesar
Baltazar, Renato Phebo, Fernando Bittencourt e Ricardo Tatuí.
"Quando eu cheguei no evento
principal, senti uma diferença absurda na torcida, pois quanto mais próximo
chegava da praia surfando a onda, dava para ouvir a multidão que vibrava a cada
manobra", relembra Sergio Noronha. "Eu, o Miguel e o Gugu, fizemos
nosso point na parte esquerda do palanque, vendo tudo do alto, se protegendo do
Sol intenso, analisando as ondas, monitorando os intervalos entre as séries.
Realmente, a concentração no evento principal foi tanta que até mesmo aquelas
mulheres maravilhosas do Sul, que desconcertam qualquer um, não conseguiram
tirar meu foco no evento. Fiquei fiel à minha prancha (risos)".
Dos quatro que passaram para enfrentar os
principais cabeças de chave na segunda fase homem a homem, apenas Sergio
Noronha venceu, despachando o australiano Barton Lynch, que no ano seguinte
conquistaria o título mundial de 1987. Tinguinha Lima perdeu para Hans
Hedemann, Dadá Figueiredo para Glen Winton e Rodolfo Lima para Mark Occhilupo.
Os campeões mundiais Tom Carroll e Mark Richards também ficaram nessa fase.
Noronha ainda enfrentou mais dois australianos, passando por Mitch Thorson nas
oitavas de final e só parando no campeão Dave Macaulay nas quartas de final.
"Lembro que peguei uma esquerda
espetacular contra o Dave Macaulay, mas extrapolei na batida de backside, que
saiu até na capa da Visual Esportivo (revista de surfe da época)", destaca
Sergio Noronha, sobre a bateria com o campeão do Hang Loose Pro Contest 1986.
"Ali senti que tinha perdido a primeira das duas baterias que correria com
ele. Depois, fui pro tudo ou nada e novamente o cara tava cirúrgico, venceu a
mim e à todos, inclusive o Occy (Mark Occhilupo) na final".
Depois da festa australiana no pódio, um
concurso "miss biquíni" agitou a multidão na praia, fechando a festa
do campeonato mais emblemático da história do surfe brasileiro. O Hang Loose
Pro Contest aconteceu mais três vezes na Ilha de Santa Catarina e todos foram
vencidos por surfistas da Austrália, com Tom Carroll sendo bicampeão na
Joaquina em 1987 e 1988 e Glen Winton ganhando o último em 1989.
"Duas coisas que me deixaram triste
naquele campeonato", revela Sergio Noronha. "Uma foi não ter chegado
às finais, pois queria muito aquele troféu, que era lindo. Outra foi não ter
falado com o Alfio (Lagnado, da Hang Loose) para me patrocinar, pois teria tudo
a ver após o evento (risos). Mas, o Sergio Noronha (Fedelho) passou a ser celebridade
nacional no meio do surfe. Voltando pra casa, o filho que sempre foi estudioso,
era o orgulho dos pais, mas havia dado um tempo nos estudos em 1984, após
terminar o segundo grau para se dedicar ao surfe, sempre com o apoio da D.
Luzia e Seu Sergio e as irmãs Katya e Luciana, pôde mostrar que realmente era
bom naquilo que se propunha a fazer".
Sérgio Noronha, quinto colocado e melhor
brasileiro no primeiro Hang Loose Pro Contest da história, é um dos personagens
da celebração de 30 anos. "Fazer parte dessa história não me credencia em
nada, mas me sinto feliz de ter tido ídolos e por ter competido com eles, como
o Cauli (Rodrigues), Valdir Vargas, Picuruta Salazar, Tinguinha, Dadá
(Figueiredo), Pedro Muller, e dentre os gringos, o Occy (Mark Occhilupo), Tom
Carrol, Tom Curren, Kong (Gary Elkerton)".
A história do campeonato de surfe mais
tradicional da América Latina vai recomeçar agora onde tudo começou, na Praia
da Joaquina, de 1 a 6 de novembro em Florianópolis. Quem será o vencedor na
celebração dos 30 anos do primeiro Hang Loose Pro Contest?
Nenhum comentário: